11 de ago. de 2012

Na sala



Nadadeiras-asas violáceas
Teu céu é tão pequeno
Aquário no meio da sala.
Nada, voa. Voa, nada.
Bate a cauda
levanta a asa
Água-céu, pouco custa
levantar voo.
A imagem perfeita!
Estanque retrato
de encontro ao peito.
Bate, cruel, quase morto
O teu olhar refletido no vidro.
Voa no aquário
O peixe-pássaro,
tuas asas-nadadeiras a planar.

4 de abr. de 2012

Amor Ideal



Amor ideal,
saberás reconhecer em
mim
o nada,
além do nada que sou?

Amor ideal,
choraremos juntos pelos
nossos irmãos
que não dormem,
que tem fome,
que tem pressa,
os que se camuflam na escuridão.

Amor ideal,
aprenderemos a escrever
à ponta de faca
o nosso amor?
Dos restos de tudo
surgirão nossos relicários.
                        Do resto de tudo
                                    nosso amor.


Amor ideal,
existiremos a contra gosto?
Juntos seremos desgosto,
opostos em oposto?

Amor ideal,
se existisse,
se no fim de tudo
existíssemos.
Estaria em teus braços
agora
pensando na nossa existência
- essência -
ideal.



11 de jun. de 2011

Interface







Descalça, pisando em vidros
afogando as mágoas no espelho
face a face com a tristeza,
pois, toda verdade é dor.
Desejo conhecer o ser amado
o amor de ser amado,
mas será que vou reconhecê-lo?
Infelizmente só conheço o medo
Quarto vazio reflexo da alma
sem credo, sem fé
ouvindo canções soturnas em torpor, de repente,
um sorriso sobressai, como flores murchas no jardim.
Goteiras na sala de estar
mesmo sem sinal de chuva.
Lágrimas afogam
o corpo desolado,
miserável demais para prosseguir
paredes internas barreira para as horas
Alguém chamou a ambulância
já é tarde, esfriou.

8 de mar. de 2011

Mulher

Burning Giraffe-Salvador Dalí

E Deus me fez mulher
Exatamente da costela de Adão
Que lugar ingónbil!
Depois de me escolher
de uma parte absurda do corpo
de um homem,
me fez gentil e amável.
Com formas suntuosas
e beleza arrebatadora.
Mesmo com todas estas dádivas
por dentro sou vazia.
Deus deixou em mim uma lacuna.
Porque dentro de seus planos
me juntaria a Adão e procriaria.
Colocaria no mundo
outras tão amáveis e gentis.
Por isso me fez gaveta
- Guarda mulher no teu ventre o fruto!
Gaveta.
Ora, eu que sou tão mulher
poderia aceitar de um Deus
tão machista tal ordenação?
Terei que me apaixonar por Adão
E sofrer
Vou lhe implorar amor
E sofrer
Sentirei dores no parto
já é sofrimento suficiente
E quando o meu filho não me ligar
Vou sofrer!
Porém minha consciência clara
no momento da inadiável partida
me fará orgulhosa
de ter sofrido o melhor e maior
amor do mundo.

13 de fev. de 2011

Não sei se ainda sei





Entre cruzes
Parou no cruzamento
O som ecoou como uma bomba.

Entre cruzes
pés descalços atravessando o asfalto,
chuva molhando as calçadas.
Fome para os desamparados.

Entre cruzes
A alma ronca a fome dos desalmados
Necessita aconchego, amparo.


Meu grito é mudo e estou farto.


Morre o cão vadio solitário
Onde está o corpo para enterrá-lo?
Não sei onde está...não sei.
Não sei de nada.



Entre cruzes
Mulheres rezam no altar
Não sei. Não sei de nada.
O homem desistiu de tentar
Não sei.
Não sei de nada.
Entre cruzes
Sigo cego, torto, puto,
Surdo, morto.



Não sei.
Não sei de nada.

28 de jan. de 2011

Cidade Baixa




A Cidade Baixa tem muitos cheiros
Que se misturam ao cair da tarde.
De bala doce com pinho barato,
Com fumaça de carro e cigarro,
Com desejo e trabalho.
É a Cidade do comércio,
Ruas antigas, estreitas,
Onde se vende de tudo:
Salgados, balas, brinquedos,
Bolsas, sexo.
As ruas vivem lotadas
Consumidores diversos.
Parei um instante
Entre os homens e mulheres
Da minha Cidade.
Voltei no tempo,perdida, 

olhando os prédios antigos
Redecorados.
Olhando e imaginando
Os corpos vendidos ou abandonados.
A Cidade Baixa é bela
Do Cine Sexy ao pião de madeira.

Fonte foto: Tirada por Ranier Bragon postada no blog http://napiorembh.blogspot.com/

19 de jan. de 2011

Canção de Passarinho





Um par de asas atrofiadas:
Para que serve?
O amor não libertaria
As asas atrofiadas.
Não tiveram cria,
Não cantavam.
O amor não libertaria
Um par de asas atrofiadas.
E se o fim viesse
Estaria feita justiça?
Mas justiça pelas mãos dos homens
Não é justiça feita.

Um par de asas atrofiadas...
Para que serve?
Se não podem voar alto no baixo céu
Se não podem ver as estrelas
Se não podem fugir de medo,
Asas atrofiadas apenas servem:
Quando se está enjaulado
Quando se é aprisionado
Por um ser superior
Que em tamanha inferioridade
Se autodestrói acreditando estar construindo.


Um par de asas atrofiadas
Que poderão ser livres
No que acreditamos trazer liberdade.
Se não somos livres hoje
Construímos na morte o amanhã pleno.
Para que serve a liberdade em asas?
Se nada fez, nada modificou!


3 de dez. de 2010

Amanhecendo



Dois corpos sobre a cama:
olhar mudo,
boca aberta para receber o beijo.
Elo que se encontra,
sem se prender.
Vira o corpo do avesso
ela espera outro beijo.
Corta a mudez fechando os olhos
E sente penetrar
na alma a paciência da calma.
Pega a mão,aperta
sente os pêlos arrepiarem.
Não quer explicações
não quer lembrar do fim.
Abraça o corpo junto ao seu
sente a pele quente
o coração bater.
Pensa no fim.
"Mas porque lembrar disso agora?"
Mania de sofrer por antecipação.
Bem-vindo ao ponto de partida
Adeus a cada um.
Um beijo
Acabou o encontro de estar
Volta, só, para casa
com a dor de ser.



Fonte da imagem:http://lacreme1971.blogspot.com/2009_06_01_archive.html


19 de out. de 2010

Grão ou Abismo

O que passou por nós:
Raio?
Luz divina?
A solidão perdida?
O que passou por nós?

E agora o que somos:
Fé?
Grão de vida?
Absurdo do absurdo?
Abismo sem fim?
E
 agora
             o
                que
                     Somos?
Nós...

29 de set. de 2010

Como nasce a dor?


No solitário grito do excluído
As nuvens e os anjos do senhor
Contorceram-se.
O eco subiu entre as pedras
Contornou as chapadas
E sufocou as crianças ainda na sua pureza febril.
É o fim!
Um grito mudo
As plantas murchas
O céu em prantos
Sufocou o corpo febril que acabara de nascer.
É a dor!
Que nasce torta
Com folhas mortas
Sem sombra
O vento ainda insiste e sopra
Mas não há paz no coração frio e casto.
É a dor!
Que cresce na ponta das unhas
E alcança os olhos coléricos
Enrola-se pelos fios do cabelo
Conduzindo aos abismos dos ismos classificantes.
É dor!
Que sufoca as células
O cristo em sangue
A solidão a dois.
Tudo se transferindo de lugar e sonho, tudo é dor.

12 de set. de 2010

Suicídio Solitário de Encontro ao Sol

Às vezes penso em me atirar...
Mas meu coração esfriaria ainda mais
Cubo de gelo se tornaria.
Então me atiro de encontro ao sol
para esquentar a alma fria
e os dias sombrios iluminar.
Porém o sol quente é solitário
tão mais que um dia sombrio.
Porque se existia alguma esperança
virou ilusão.
Insatisfação.



















E isto tudo cresce
de uma forma monstruosa.
Invade a situação e consegue subjugá-la.
Toda dor é tão viva,
que escraviza da pior forma.
Torno-me dependente
de algo maior.
Luto veemente,
mas o que traria libertação
ainda está muito distante.